O jejum sempre foi associada a rituais religiosos, dietas e protestos políticos. Agora, porém, pesquisadores do Centro Médico Intermountain, em Utah, Estados Unidos, encontraram evidências de que se abster de comida de vez em quando também faz bem para o coração e para a saúde como um todo.
Os cardiologistas relatam que o jejum reduz os riscos de doença arterial coronariana (caracterizada pelo estreitamento dos vasos sanguíneos em decorrência do espessamento das artérias) e diabetes. Por outro lado, são notadas alterações significativas nos níveis de colesterol no sangue. Tanto o diabetes quanto o colesterol elevado são fatores de risco conhecidos para a doença arterial coronariana.
Os resultados foram apresentados em 03 de abril, nas sessões científicas anuais do Colégio Americano de Cardiologia, em Nova Orleans.
O estudo recente amplia as descoberta de outra pesquisa realizada pelo mesmo centro médico quatro anos atrás, que revelou a associação entre jejum e redução no risco da doença cardíaca – principal causa de morte entre homens e mulheres dos Estados Unidos. Na nova pesquisa, o jejum também mostrou ser eficiente para reduzir outros fatores de risco cardíaco como os triglicerídeos, o peso e os níveis de açúcar no sangue.
“Esses estudos anteriores demonstram que a nossa descoberta mais recente não foi um acontecimento fortuito”, diz Benjamin Horne, diretor de Epidemiologia e Genética Cardiovascular na Faculdade de Medicina Intermountain e principal investigador da pesquisa. “A confirmação desses pontos positivos relacionados ao jejum levanta novas questões como o jejum melhora a saúde ou se ele simplesmente indica um estilo de vida saudável”.
A nova pesquisa registrou as reações biológicas do organismo durante o período de jejum. Os níveis de colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL-C, o “mau” colesterol) e de alta densidade (HDL-C, o “bom” colesterol) aumentaram significativamente: 14% e 6%, respectivamente. Isso elevou a taxa de colesterol total, o que pegou os pesquisadores de surpresa.
“O jejum provoca fome ou estresse. Em resposta, o organismo libera mais colesterol, permitindo utilizar a gordura como fonte de combustível em vez de glicose. Isso diminui o número de células de gordura no corpo”, explica Horne. “Isso é importante porque quanto menos células de gordura no organismo, menor a probabilidade de resistência à insulina, ou diabetes”.
O estudo recente também confirmou resultados anteriores sobre os efeitos do jejum para o hormônio do crescimento humano (HGH). Durante períodos de 24 horas sem comer, o HGH aumentou em uma média de 1.300% nas mulheres, e quase 2.000% nos homens. Isso ocorre porque o hormônio trabalha para proteger a massa muscular e o equilíbrio metabólico – resposta desencadeada e acelerada pela falta de ingestão de alimentos.
Os pesquisadores realizaram dois estudos com mais de 200 indivíduos – tanto pacientes do hospital quando voluntários saudáveis - que foram recrutados no Centro Médico Intermountain. Outros 30 pacientes beberam apenas água e não comeram nada por 24 horas. Eles também foram monitorados ao comer uma dieta normal, durante um período adicional de um dia inteiro. Os exames de sangue e testes físicos foram aplicados para avaliar todos os fatores de risco cardíacos, indícios de risco metabólicos e outros parâmetros de saúde geral.
Embora os resultados tenham sido surpreendentes para os pesquisadores, ainda não é hora de começar a “dieta do jejum”. São necessários novos estudos como esses para determinar totalmente a reação do corpo à falta de comida e seus reais efeitos sobre a saúde humana. Porém, Horne é otimista e acredita que o jejum pode um dia ser prescrito como tratamento para a prevenção de diabetes ou da doença arterial coronariana.
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